segunda-feira, 23 de março de 2009
Deus e o Diazec
Oito horas da noite o telefone toca: “Boa noite! Se interessa em fazer um teste para trabalhar na Brasiltelecom?” Uma notícia agradável após quase um ano desempregado. Uns dizem “callcenter é um inferno”, outros dizem “é puxado, mas dá pra levar numa boa!” Penso: “legal mesmo é dinheiro no bolso em tempos de crise!” Preparei-me para a entrevista que seria às oito da manhã seguinte. Jeans novo, camiseta lisa com pouca informação, barba feita, comida leve, lábia afiada. Seis e meia da manhã, diarréia! Uma velha seguidora que me acompanha desde o tempo do vestibular. Pensei “agora não!” Sempre que ganho uma oportunidade de me sociabilizar minha fisiologia encontra uma forma quase fantástica de me sabotar, e lá se vão as festas em que nunca fui, todas as pessoas que não conheci, os lugares bacanas escondidos em Goiânia que deixei de ir. Escondidos não! Existe um lugar melhor além do arco-íris, mas o verde-esmeralda é caríssimo. Voltando à minha escatológica jornada, decido que iria assim mesmo, afinal de contas minha vida não pode ser definida por um rastro corporal marcado em vestes alvas cem por cento algodão. Sete horas da manhã preenchido por um vazio imenso que era acompanhado por uma pílula imaginária. Às sete as farmácias do São Judas ainda estão fechadas. Judas? Engraçado como os nomes das ruas e dos bairros em sua maioria são bíblicos. No meio de minha angústia intestinal resolvi pensar seriamente sobre a existência de Deus. Sentada ao meu lado aguardava o ônibus uma mulher de meia idade, vestes esvoaçantes, de estampas questionáveis entre o kitsch e o estranho, cabelos longos mal cuidados e livro sagrado junto às mãos. Tocado pela segurança da mulher que segurava o livro, resolvi perguntar: “A senhora é religiosa?” E ela me respondeu bruscamente: “Eu num faço esse tipo de trabalho, não!” Tudo bem, e antes de virar essa página ela me perguntou por que essa pergunta, e respondi: “Perdão se fui grosseiro ou indelicado ao abordar a senhora, mas como estou passando mal achei que se a senhora fosse uma religiosa poderia fazer uma oração ou mentalizar algo que me fizesse sentir melhor.” E ela respondeu: “Eu num faço esse tipo de trabalho, não, mas o pastor faz, ele tá lá na igreja agora! Vamo lá que eu te levo!” Eu respondi: “Ok, tudo bem, não precisa! Obrigado!” Ela disse “Não, eu vou lá! Levo você no pastor!” “Eu disse para fazer uma oração, você precisa do pastor?” Ela respondeu com uma propriedade e segurança quase alemã: “Eu só oro para os membros da minha família!” Pouco tempo depois chego ao meu destino, cumpro minhas tarefas, resolvo meu alarme falso, e sou aprovado. Ficaram de me ligar em 30 dias. Por enquanto só me resta fé e diazec.
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Oi menino!
ResponderExcluirTrabalhar num call center pode ser um inferno mesmo dependendo de que tipo de trabalho você vai fazer. Se você vai vender produtos ou fazer pesquisas, enquetes ou ainda pior, cobrar dívidas, então apronte-se para sofrer. Eu trabalho num call center bilingüe onde interpretamos ligações dos Estados Unidos quando um hispano telefona um hospital, hotel, escola, etc. Acho que este tipo de call center não é assim tão mau mas pode ainda ser estressante e exaustivo.
Também me dá diarrea nos momentos mais inoportunos, especialmente antes de um teste importante ou uma entrevista. As palmas das minhas mãos suam, as costas suam, a testa sua... horrível.
Enquanto à existência de Deus, eu acho que Deus existe sim. Não sou religioso, não. Era agnóstico quando era criança e adolescente mas agora posso contestar a inexistência do Creador. Confie nele -- Ele é fiel.
Espero que possas conseguir o emprego!
Acho que quis dizer "agora não posso contestar a inexistência...." :P
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