sexta-feira, 20 de março de 2009

A IMAGEM E O ESPECTADOR: A DIALÉTICA QUE RECONSTRÓI SENTIDOS.

VINICIUS BORGES FIGUEIREDO

RESUMO: Este artigo discutirá os conceitos de imagem, enfatizando a visão, que não é um instrumento neutro que apenas reproduz o que vemos, pois o sujeito que faz uso da visão, o qual definiremos neste estudo como o “espectador “, se utiliza além de sua capacidade perceptiva orgânica de reconhecimento de uma imagem, do diálogo com seus saberes, cultura, afetos, crenças, condições sociais etc.. Estas particularidades que levam ao homem estabelecer relações e conceitos sobre imagem em geral, atentarei especificamente aos estudos de imagem do Professor da Universidade de Paris III, Jaques Aumont, especificamente do capitulo 2 “ A parte do espectador” até 1.1.1 “ A relação da imagem com o real ’ para a análise discursiva deste texto aplicarei uma relação entre o “ leitor modelo “ de Umberto Eco aproximando ainda mais a leitura lingüística com a leitura imagética.

PALAVRAS-CHAVE: Imagem, espectador, reconhecimento,realidade.


A IMAGEM E SEU ESPECTADOR


Falar de imagens dialéticas é no mínimo lançar uma ponte entre a dupla distância dos sentidos. (Os sentidos sensoriais, o ótico e o tátil, no caso) e a dos sentidos (os sentidos semióticos, com seus equívocos, seus espaçamentos próprios). Ora, essa ponte, ou essa ligação, não é na imagem logicamente derivada, nem ontologicamente secundária, nem cronologicamente posterior: ela é originária, muito simplesmente – ela também (HUBERMAN,1998, p. 169).

Estudar a imagem e os efeitos que ela causa no espectador não se trata de definir uma relação estática e compreensiva , ao menos parcialmente pelas vias da psicologia, tão pouco estabelecer um padrão fechado de psicologia do espectador, trata se somente de explicitar algumas questões inerentes ao uso de imagens, respondendo a perguntas como: O que nos leva a observar uma imagem? , Porque elas existiram em quase todas sociedades humanas ? E como elas eram olhadas? Questões sobre leitura de imagens também são observadas, em leituras de textos escritos, da mesma forma que uma imagem interage ao coeficiente subjetivo-histórico de seu espectador, que preenche certas lacunas interpretativas colocando a imagem além do estático para o emocional, o que pode gerar um prazer estético específico. A leitura propícia a seu “leitor modelo” um tipo de sensação que vai além do cognitivo, fazendo dos textos também produtores de imagens mentais , um tipo de experiência estética que se aproxima com as artes visuais.

O texto está, pois, entremeado de espaços em branco, de interstícios a serem preenchidos, e quem o emitiu previa que estes espaços e interstícios a seriam preenchidos e os deixou brancos por duas razões . Antes de tudo,porque um texto é um mecanismo preguiçoso ( ou econômico )que vive da valorização de sentido que o destinatário ali introduziu; e somente em casos de extremo formalismo, de extrema preocupação didática ou de extrema repressividade o texto se complica com redundâncias e especificações ulteriores - até o limite em que se violam as regras normais de conversação . Em segundo lugar, porque, à medida que passa da função didática para a estética, o texto quer deixar ao leitor a iniciativa interpretativa, embora costume ser interpretado como uma margem suficiente de univocidade. Todo texto quer que alguém o ajude a funcionar. (ECO,1986, p 37.)


PORQUE SE OLHA UMA IMAGEM?


A criação das imagens não ocorreu por um acaso, desde sempre, nas sociedades mais antigas, as imagens foram criadas para fins e códigos específicos, seja na propaganda, na religião, no vestuário ou nas mais variadas formas de cultura como representação de algo; a principio sem entrar em detalhes nestas questões, é necessário identificar a resposta para uma das questões cruciais observadas no livro de Aumont: “ A que provém da vinculação da imagem em geral com o domínio do simbólico , o que faz com que ela esteja em situação de mediação entre o espectador e a realidade? Através das imagens, e da subjetividade do espectador assim como um leitor, surge um confronto entre o verbal e o imagético e dessa cisma entre o que se ver , ou ler surge questões muito próximas, como o “não dito “observado por Eco.

Um texto distingue- se, porém, de outros tipos de expressão por sua maior complexidade . É motivo principal da sua complexidade é justamente o fato de ser entremeado do não- dito (cf.Ducrot, 1972). “ Não-dito “ significa não manifestado em superfície , a nível de expressão : mas justamente este não dito que tem de atualizado a nível de atualização do conteúdo .(ECO,1986, p 36.)


A RELAÇAO DA IMAGEM COM O REAL


Uma imagem pode ser um índice de existência ou registro, algo que realmente existiu ou não, dependendo da veracidade da imagem (mais especificamente no caso de uma fotografia) ou de sua manipulação. Se pensarmos na imagem como produtora de verdades e transmissora de conhecimentos, se abre um leque mais amplo de “realidades”. Rudolf Arnhein( 1986) sugere uma tricotomia dos valores da imagem e sua relação com o real . “Um valor de representação” : A imagem é representativa, quando representa coisas concretas do mundo real , tidas por convenção social e histórica, como ver a fotografia de uma cadeira e saber que representa o objeto do mobiliário. Este nível de representação segundo Arnhein , possui um nível de abstração inferior ao das próprias imagens.

Segundo tópico: “O valor de um símbolo” : A imagem é simbólica quando representa coisas abstratas de um nível de abstração inferior ao das próprias imagens.

Duas observações rápidas, enquanto não se retoma à noção de símbolo, esta também muito carregada historicamente: de inicio, em suas primeiras definições,Arnhein supõe que se sabe necessariamente avaliar um “nível de abstração” - o que nem sempre é evidente ( será que um círculo é um objeto do mundo , ou antes uma abstração matemática ?); em seguida e sobretudo , o valor simbólico de uma imagem é, mais do que qualquer outro, definido pragmaticamente pela aceitação social dos símbolos representados(AUMONT,1986, p 79.)

Terceira vertente: “o valor de um signo”, para Arnhein , uma imagem pode servir de símbolo quando representa algo que não evidenciam características visuais claras entre o que se representa, a exemplo disso as placas de transito ao menos algumas delas, no código ferroviário Frances a placa que anuncia o fim de limite de velocidade, é representada por uma barra oblíqua azul escuro em fundo marfim , cujo seu significante visual tem uma relação totalmente arbitrária com seu significado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998.

AUMONT, Jacques . A imagem ato fotográfico. Campinas, SP: Editora Papirus, 1993.

ECO, Humberto. O leitor modelo .. São Paulo : Editora Persepectiva S. A. 2002.

3 comentários:

  1. Estou lendo a Imagem, não é um assunto tão fácil de se entender pelas palavras de Jacques Aumont, fico admirada por seu interesse nesse assunto, por mais que eu ache o assunto importante, é impossível não ter sono quando se lê o livro.

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  2. Gostaria de saber seu email. Tenho dúvidas sobre esse assunto e se puderes me ajudar ficarei muito grata.

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